Artigo- Terceirização do atendimento de pensão por morte do INSS: descentralização ou desorganização?
A
recente decisão de permitir que cartórios realizem o atendimento dos pedidos de
pensão por morte do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem gerado uma
intensa discussão sobre os impactos dessa medida. Afinal, se está diante de
descentralização ou de desorganização?
A
principal justificativa para essa terceirização é permitir que os cartórios,
que já realizam atos como o registro de óbitos, possam também iniciar o
processo de requerimento da pensão por morte. No entanto, essa mudança levanta
preocupações sobre a capacidade técnica e a preparação dos cartórios para lidar
com questões previdenciárias, que exigem conhecimento específico e que contam
com uma tradição de atendimento, operacionalizada por técnicos e analistas do
Seguro Social.
Será
um grande equívoco promover a terceirização do atendimento aos cartórios, mesmo
que residual. Trata-se de uma medida na contramão, com potencial de
desorganização, e que traz sérios riscos para a qualidade do atendimento.
Para
garantir um serviço eficiente, tanto do ponto de vista social como econômico, o
governo deveria investir na modernização dos sistemas do INSS, dentro do
paradigma da administração pública digitalizada, ao invés de delegar essa
responsabilidade para entidades que não estão preparadas para tal função.
A
modernização dos serviços previdenciários no Brasil está alinhada com os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas
(ONU), especialmente aqueles voltados para a inovação, à infraestrutura e à redução
das desigualdades. O acatamento destes objetivos tem o potencial de equacionar
questões fundamentais para a previdência, como reduzir filas e o tempo de
espera, através da capacidade de diferentes sistemas e organizações
governamentais trabalharem em conjunto.
A transformação
digital não apenas melhora a experiência dos segurados, mas também fortalece os
mecanismos de governança, diminuindo fraudes e tornando a concessão de
benefícios mais eficiente. No entanto, para que essa modernização seja efetiva,
é essencial que haja investimento contínuo em infraestrutura. Resta saber se isso
é uma prioridade para a Previdência Social.
Dr.
Alexandre Triches
Advogado
e professor
https://schumachertriches.com.br/
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